Compaixão não é papo de guru
Compaixão é um tema cada vez mais em pauta na área da Neurociência. Porém, infelizmente, muita gente ainda o considera irrelevante.
Uma vez iniciei uma conversa sobre isso com um amigo e fui logo interrompida com a seguinte ponderação: “Não é que eu não tenha compaixão, mas no momento não consigo tempo nem pra cuidar de mim, quanto mais dos outros”. Naquele dia não consegui terminar o que eu tinha a dizer. Se ele tivesse me ouvido, talvez entendesse que é justamente por se sentir assim que deveria praticar a compaixão. As pessoas atarefadas e estressadas são as que mais precisam entender o que a compaixão provoca em nós. Ela pode ser, inclusive, a chave para inúmeros problemas emocionais e comportamentais.
Compaixão não significa apenas ajudar alguém, mas também ajudar a si mesmo. Vale lembrar que compaixão é diferente de empatia ou altruísmo, que representam a capacidade de sentir a dor do outro ou ter uma boa intenção. Compaixão é ter o desejo de ajudar e não só ficar no blá, blá, blá, mas ir lá e agir.
Na correria da vida moderna, com horários, metas, desafios, contas e dívidas, insatisfação de todo tipo, disputas, intolerância uns com os outros, cobranças, cansaço, falta de saúde física, além de problemas emocionais, falar em compaixão parece mesmo “historinha pra boi dormir”, mas é exatamente nessa hora difícil que vale praticar essa virtude.
A Ciência já sabe que nosso cérebro responde de forma positiva quando fazemos bem a alguém. Para trabalhar a falta de autoestima, um excelente exercício – adivinhe – é ajudar o próximo. Quem faz disso um hábito consegue uma enxurrada de liberação hormonal que promove o bem-estar. Assim, é impossível alguém, com falta de amor próprio, que não consegue enxergar nada de bom em si mesmo, continuar se sentindo assim ao perceber que fez a diferença na vida de outra pessoa.
Ações positivas também ajudam a reduzir os sintomas da depressão e da ansiedade. Se as pessoas levassem esses ensinamentos mais a sério, não precisariam recorrer tanto a medicações que prometem melhorar o humor, o estresse, dar disposição, calma ou felicidade. Nosso organismo tem a capacidade de produzir tais substâncias. A cura está em nós.
Por exemplo, os hormônios mais conhecidos, como a Serotonina, a Endorfina, a Ocitocina e a Dopamina, são liberados no cérebro e percorrem todo o nosso corpo quando desempenhamos determinadas ações. Eles promovem calma, prazer, satisfação, segurança e inúmeras outras sensações necessárias para uma vida feliz. E, lógico, com o hábito de ajudar o semelhante, também temos benefícios incríveis.
Ao estender a mão para quem precisa, além de fazer a sua parte para um mundo melhor e tornar a vida de alguém um pouco mais fácil, seu cérebro reconhece esse ato e libera a Ocitocina, conhecida como o hormônio do amor. Naquela hora em que você está dando um abraço demorado em alguém ou praticando a generosidade, é quando a Ocitocina é produzida no hipotálamo. Não é à toa que esse hormônio está diretamente relacionado aos comportamentos maternos que provocam os sentimentos mais genuínos de segurança e calma.
Cada vez mais as pesquisas comprovam que o nosso cérebro reconhece a compaixão. Os neurocientistas do National Institute Of Health, nos Estados Unidos, detectaram que a mesma região do cérebro que reage a estímulos prazerosos, como quando comemos doces, durante o sexo, ou quando somos presenteados, é ativada também quando vemos um ato de caridade ou quando nós oferecemos ajuda ou doação.
O professor e pesquisador Michael Norton também realizou experimentos e detectou que proporcionar alegria, como comprar um presente ou gastar alguma quantia com outras pessoas, gera uma sensação maior de felicidade do que quando gastamos com nós mesmos.
Você percebe que motivos não faltam para começar a ter mais compaixão? Se não te basta ter consciência da importância do amor e da bondade por si só, repense nos fatos comprovados descritos acima: ajuda a combater a depressão e a ansiedade, libera hormônios benéficos para o corpo e para a mente e ainda ativa a área da felicidade no cérebro. Mas, se nem assim você está convencido, vai aí mais um benefício apontado pelos especialistas: a compaixão pode prolongar a vida de quem a pratica! É isso mesmo! Então, se você quer ter uma vida mais longa e com qualidade, perceba mais o mundo a sua volta. Bem pertinho pode ter alguém precisando de uma ajuda, seja ela qual for. Nem sempre é necessário um alimento ou um socorro financeiro. Às vezes tudo o que aquela pessoa quer é que você a escute, ou talvez ela sinta falta de um abraço, de uma palavra de incentivo ou de um gesto que a faça se sentir, de alguma forma, importante, amparada e lembrada por você. Pense nisso! E um ótimo final de semana, cheio de amor e COMPAIXÃO.