“Elevação dos casos de transtornos mentais: 4ª onda ou uma Tsunami que vai da ansiedade até quadros gravíssimos de surtos psicóticos?”

Não podemos negar que a pandemia do vírus Covid-19 veio para ensinar muito ao ser humano. Aflorando, em todos os sentidos, o pior e o melhor do homem. O isolamento social trouxe o choque de realidade e uma verdadeira crise ética, confrontando o narcisismo e o egocentrismo de um indivíduo que achava que tudo podia, tudo era permitido, tudo estava em sua mão. Ou seja, o homem passou a perceber que não pode controlar tudo. E diante de todo esse contexto aterrorizante, vem ganhando destaque o que os especialistas estão nomeando como a 4ª onda. Uma onda da curva de contágio que trata do aumento dos sofrimentos psíquicos. A elevação dos casos de transtornos mentais que vão desde uma ansiedade até quadros gravíssimos de surtos psicóticos.

Estudos revelam que a 1ª onda refere-se aos casos propriamente ditos e confirmados de Coronavírus. A 2ª onda está fixada em outras urgências médicas, como os infartos agudos do miocárdio, os acidentes vasculares cerebrais e outras comorbidades não relacionadas ao vírus. Já a 3ª onda assusta e preocupa a classe médica, pois aponta as doenças crônicas descompensadas pela falta de acompanhamento profissional contínuo – como as diabetes, hipertensão, obesidades e as cardiopatias -, tratamentos que têm sido negligenciados por medo de exposição ao contágio por Covid-19.

Mas o crescimento da 4ª onda vem ganhando terreno e deixando consequências além da pandemia para os próximos meses ou anos. O número de pessoas apresentando doenças da mente aumentou consideravelmente nos últimos tempos. Novos pacientes deram início aos tratamentos psicológicos e psiquiátricos, evidenciando essa elevação nos casos. A piora em pacientes antes estáveis sinalizou uma maior necessidade do preparo do sistema de saúde no acolhimento dos indivíduos acometidos por transtornos mentais. Entre eles, destacamos a ansiedade, depressão, transtornos de estresse pós-traumático, transtornos bipolares, esquizofrenia, entre outros. Traumas e doenças psíquicas provocadas pela exposição à incerteza do amanhã, pela insegurança e pelo desgaste financeiro; além do aumento dos conflitos de relacionamento e até de violência doméstica, uma vez que o convívio familiar foi intensificado pela quarentena. Surgindo também casos de desconforto mental gerados pela falta do contato físico e da solidão.

Os teleatendimentos virtuais dos profissionais de saúde mental tornaram-se uma realidade, com um número de atendidos em uma curva de escala crescente nos últimos dias, dando indícios de uma “tsunami” do que poderemos enfrentar nos próximos meses. A recaída dos dependentes químicos e o aumento do consumo de calmantes, álcool e drogas evidencia a busca das pessoas por saídas e alternativas para suportar o isolamento social imposto, na tentativa de reduzir o seu sofrimento interno.

Para mitigar essa curva, é de suma importância o fortalecimento de nossa saúde mental que, sem sombra de dúvidas, é uma questão de ordem mundial que deve ser monitorada com urgência, levando em consideração o cuidado das nossas emoções, a ponto de fortalecer nossas esperanças e melhorar a saúde física e mental de cada um.

A pandemia acaba atuando como um gatilho dos transtornos mentais e reforça os delírios, potencializando a possibilidade do surgimento de um exército de ansiosos, acometidos por sofrimentos psíquicos.

Portanto, mais do que nunca, devemos buscar nosso próprio equilíbrio interno. Exercitando o pedido de ajuda ao menor sinal de desconforto. Ao perceber que o desajuste está além do suportável, mantenha a calma e aprenda a dar valor ao que realmente importa. Eliminando preocupações desnecessárias. Trabalhe sua mente para encontrar suas próprias respostas, protegendo seu lado emocional. Viva um dia de cada vez e não negligencie seus sentimentos. Externe o que sente para não se tornar uma esponja emocional, que absorve tudo e se encharca de dor, medo, insegurança, dúvidas e pavor. Fortaleça sua esperança para que o mundo não lhe pareça mais tão cinza. E se já possui acompanhamento psicológico com um profissional, não abandone seu tratamento. Lembre-se: só conseguimos lidar com o externo quando nosso interno está em equilíbrio.

Dra. Andréa Ladislau
Psicanalista

* Doutora em Psicanálise

* Membro da Academia Fluminense de Letras – cadeira de numero 15 de
Ciências Sociais

* Administradora Hospitalar e Gestão em Saúde

* Pós Graduada em Psicopedagogia e Inclusão Social

 

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