FAZENDA DA BARRA NO CORREIO PAULISTANO EM 09/08/1887

Preciosa página do Correio Paulistano chegou à Casa da Memória através da pesquisa do museólogo e Prof. Fabiano Rizzoni relatando tão nobre ação da Família Guedes. Em agosto de 1887, o Barão de Pirapitingui, Tenente Coronel José Guedes de Souza com sua formação cristã e de generoso coração promete libertação aos seus 200 escravos negros. A sua casa era visitada por eminentes clérigos. Nesta ocasião lá se encontrava o Bispo Diocesano e sua equipe de sacerdotes que o acompanhou em visita pastoral a Batatais. Atos de benevolência desta Família dirigida aos negros foram também publicados pelo jornal italiano “Fanfula”. Este periódico chegava ao Brasil nos tempos áureos do Café e da imigração italiana desde o último quartel do século XIX.

A Casa da Memória Padre Gomes coletou depoimentos de descendentes de famílias negras locais relatados, em entrevista. Mencionavam a atenção dos proprietários de seus ancestrais, quando chegados de outros recantos à Fazenda da Barra. Prontificaram-se a regularizar em matrimônio a vida conjugal de seus trisavós, aqueles que não possuíam quem deles cuidasse. O artigo do Correio Paulistano relata que neste evento a esposa baronesa estava presente e o célebre filho, quartanista de direito, Alfredo Alves Guedes também ali se encontrava. Este, futuramente doutorou-se tornando-se Secretário de Estado da Agricultura, deputado, um dos fundadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz de Piracicaba.

Dr. Alfredo Alves Guedes foi o mentor da legislação que criou a imigração italiana nos primórdios do abolicionismo. Pois bem, voltando ao evento referido o Barão, baronesa e filho, diante do Clero visitante e dos negros todos em sua sala faz importante pronunciamento. Declara que diante de ilustres visitas, em homenagem a elas queria dar vida nova aos negros. Assim como Jesus Cristo trouxe vida nova ao mundo, trazendo luz e libertação, ele libertaria a todos de sua condição de escravos no Natal de 1890. Tal grandeza seria para comemorar o aniversário do Redentor do mundo e esperava que o Bispo Diocesano estivesse presente nesta festa de liberdade.

O bispo aceitou e agradeceu comovido o convite e a homenagem recebida através deste ato de futura libertação. Congratulou-se com os libertandos destacando que gozariam dos plenos e inapreciáveis direitos de homens livres em um país livre. Aconselhou-os a responder ao generoso ato com docilidade, dedicação e boa vontade. Em seguida deu a Bênção Pastoral. Tomados de grande e indescritível alegria os negros gritaram vivas e romperam em aplausos, assegurando sua fidelidade e gratidão, saudando a aurora de sua regeneração social escreveu com propriedade o articulista. E ele acrescenta que este não foi o único ato de comiseração social da família Guedes.

Ali se encontrava o Padre Roque de Souza Freire, Tio do Barão de Pirapitingui. Era proprietário de terras vizinhas da Barra e já havia libertado seus escravos. E não contente por alforriar seus 95 escravos em testamento, deixou-lhes igualmente em legado as terras da sua fazenda. Esta interessante pesquisa harmoniza-se com aquela da obra “Jaguariúna no curso da história” de Suzana Barreto Ribeiro, obra de inauguração desta Casa da Memória de 19/12/2008. Na página 66 lê-se: “ Em 1886, menciona-se na imprensa local a presença de negros forros ocupando área de 500 alqueires, conhecida como terras do padre Roque. Localizada à margem da estrada de ferro Mogyana, próxima da Estação de Guedes…”

O Correio Paulistano de 1887 comenta que muitos escravos não souberam aproveitar desse legado, abandonaram-no. Mas isto não tira o mérito do grande exemplo desse padre que merece a gratidão pública, assim como a atitude do seu sobrinho, Barão de Pirapitingui, proprietário da Barra. Foram atos de benemerência que distinguiram estas nobres pessoas de seus concidadãos.

Tomaz de Aquino Pires.