Maior taxa Selic em 19 anos: o que isso significa para o varejo

O Banco Central voltou a apertar os cintos. Na reunião do último dia 7 de maio, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a taxa básica de juros, a Selic, em 0,5 ponto percentual, levando-a aos 14,75% ao ano, o maior nível desde julho de 2006. São quase duas décadas desde que vimos esse patamar, e os impactos no varejo, especialmente no paulistano, não serão pequenos.
O comunicado oficial do Copom foi direto ao ponto: a decisão, unânime entre os membros, responde a um cenário de riscos crescentes, tanto no plano externo (com destaque para a política comercial dos EUA) quanto no ambiente doméstico, marcado pela incerteza fiscal. O argumento central é o de sempre: conter uma inflação que, embora não explosiva, segue teimosamente acima do ideal.
A lógica por trás disso é conhecida por empresários e economistas: juros mais altos desestimulam o consumo e o crédito, esfriam a economia e, teoricamente, ajudam a frear a inflação. Mas o preço desse “remédio amargo” é sentido diretamente no chão de loja.
O setor produtivo, e em especial o varejo, sente a pressão de imediato. Com o crédito mais caro, o consumo de bens financiados como eletrodomésticos, móveis e outros itens duráveis ou semiduráveis, tende a desacelerar. O cliente pensa duas vezes antes de parcelar, e isso significa menos entrada no caixa, mais produtos no estoque, mais dificuldade para girar o capital.
E não para por aí. Os empresários também pagam mais caro para manter as engrenagens funcionando. Linhas de crédito como capital de giro, antecipação de recebíveis, desconto de duplicatas, todas encarecem. A conta pesa mais, mesmo para quem mantém boa saúde financeira.
Diante desse novo patamar da Selic, é fundamental que o varejista repense seu planejamento para o segundo semestre. A demanda deve perder força, e os custos financeiros vão exigir ainda mais eficiência nas operações. O momento é de atenção redobrada nos fluxos de caixa e cautela nas decisões de investimento.
No varejo, estamos sempre na linha de frente da economia. Qualquer mudança na confiança do consumidor ou nas condições de crédito nos afeta primeiro. Por isso, compreender o impacto desse movimento do Banco Central é mais do que uma curiosidade econômica, é uma necessidade estratégica.
Como sempre, a responsabilidade fiscal e a previsibilidade são fatores-chave para um ambiente de negócios saudável. O varejo não precisa de juros nas alturas, mas tampouco deseja reviver os fantasmas da inflação descontrolada. Resta ao empresário manter a vigilância, adaptar-se ao cenário e seguir em frente com resiliência e planejamento.