MENINOS NA CIDADE MENINA DE 1956
Após a saída do turno matutino no Grupo Escolar Cel. Amâncio Bueno, guardava-se a saudosa bolsa de couro, tirava-se o uniforme. Almoço e lição de casa. Os meninos partiam usufruir do lazer, para o encontro com os amigos do centrinho de Jaguariúna. A garotada juntava-se nas ruas Alfredo Engler, Júlia Bueno, Cândido e Cel. Amâncio, Praça Umbelina , jardim e Largo da igreja. Reunia-se para brincar, na liberdade, segurança e alegria da infância privilegiada. Brincadeiras: esconde-esconde e pega-pega pelos grandes quintais dos casarões. Os meninos invadiam os altos porões de pedra, escondiam-se. Subiam nas mangueiras, entre as folhagens cerradas, enfiavam-se debaixo dos quaradores de roupa.
Algumas crianças eram travessas e viviam fazendo artes no rancho do poço. No Jaguary houve heróis anônimos salvando criança que caía lá dentro! Foi o Sr. Zé Firmino que salvou a Teresa Turato. Os poços eram cobertos com tábuas pregadas sobre vigotas. Em muitas casas não havia banheiro interno. Era uma casinha no fundo do quintal sobre uma fossa negra. Quantas galinhas e gatos descuidados foram recuperados das fossas, quando despencavam pelo buraco da latrina em suas andanças. Meninos e meninas brincavam no topo de cajueiros e goiabeiras. Imaginavam-se no convés de um navio e deliciavam-se com os doces frutos colhidos no ato, isentos de agrotóxicos. Balanças que voavam dos galhos das árvores mais altas. Memoráveis tombos e galos na cabeça! A mãe curava com salmoura.
Naquela época não se usavam pesticidas. As hortaliças eram regadas com água puxada do poço e o adubo vinha dos galinheiros e das cocheiras. Havia galinheiros com portões abertos, fechados, apenas à noite, para livrar as criações das raposas. O sol, desinfetante natural, arejava todos os cômodos da casa. Diariamente colhiam-se ovos caipiras de saudáveis galinhas que pastavam além da cerca de bambu da casa durante o dia. Em alguns quintais havia cocheira, cavalo e charrete. Próximo ao centro, nos terrenos baldios amarravam-se cabras. O leite de cabra fortalecia a muitas crianças. Capins diversos e gramados cobriam pastos, que eram convertidos em campinhos de futebol. Para ele dirigiam-se os garotos com suas bolas. Os meninos que tinham o privilégio de ter uma bola de capotão zelavam por ela. Passavam pela Selaria do Seu Bento Godoy e pediam tiras de couro para fazer o amarril que fechava a bola, passavam pela Ferraria e Bomba de Gasolina do Mantovani onde a enchiam. Após o jogo, o dono da bola ia ao açougue do Carlito Luporini, pedia pedaço de sebo para engraxá-la. Pois ela saia arranhada do pleito, porque muitos campinhos não eram totalmente gramados e a terra batida e algum pedrisco raspavam seu couro.
O campinho atrás da Pensão da Dona Mariquinha Picelli, Mãe da Marica Carneiro, era o preferido. Os jogos eram interrompidos, quando ali se instalavam circos com leões e gorilas, circo de cavalinhos, rodeios e touradas. Os espetáculos eram divertidíssimos. Que pena! Não mais existem paisagens daquela Infância! Hoje ali há uma Travessa chamada Dona Hermelinda com muitas construções. Felizmente sobrou o Patrimônio Histórico que é o casarão da Pensão, sabiamente restaurado, mantido e conservado por pessoas cultas e sensíveis à história, a uma paisagem cultural, uma das marcas do nascimento de Jaguariúna: Pousada Vila Bueno.
TOMAZ DE AQUINO PIRES