POR TRÁS DESSA CARA FEIA DE FRUSTRAÇÃO

Você já ouviu a expressão: “fulano é um poço de frustração”? Infelizmente tem muita gente que anda por aí carregando um fardo de questões mal resolvidas pesando sobre os ombros. Algumas parecem mergulhadas dentro de um poço de reclamação. Relacionamentos que não deram certo, investidas financeiras que não atingiram as expectativas, situações que, nas cabeça delas, tinham tudo para dar certo, e por aí seguem com outras lamentações. Pessoas assim vivem paralisadas, como se estivessem num museu, sentadas de frente para uma tela olhando para suas vidas, presas numa imagem que idealizavam e tentando entender onde foi que erraram. Aí, normalmente elas caem nas fatídicas perguntas que não levam a lugar algum: “e se eu tivesse insistido um pouco mais”, “ e se eu não tivesse casado”, “e se eu não tivesse separado”, “e se eu tivesse seguido outra carreira”, “e se eu tivesse ouvido minha intuição”, e se, e se, e se…
A questão é que o passado não volta (e todo mundo sabe disso) mas apesar de ter essa consciência, por que será que tanta gente se agarra a um passado frustrante, você sabe? É porque a imagem da frustração é dolorosa. Ela vive de cara feia. Ela gera em nós um semblante caído, enfraquecido, difícil de ser encarado. Além do mais, nossa mente não quer confronto, ela não foi preparada para isso e só quer nos proteger. Então é mais confortável para nossa mente nos manter em situações já “familiares”. Isso pode ser entendido numa das três Regras do Inconsciente: a Compulsão a Repetição. Nosso inconsciente guarda tudo o que vivemos e tende a nos colocar em situações que nos tragam sentimentos que já conhecemos. Por isso – usando aqui a frustração como exemplo – muitas vezes temos comportamentos repetitivos que já nos trouxeram frustrações e que sabemos que vai nos trazer mais frustração, mas mesmo assim continuamos agindo de forma parecida, gerando ainda mais desse sentimento. É como se vivêssemos num looping, presos a um padrão de comportamento e às suas consequências. Muitas vezes também o inconsciente nos traz memórias que nos levam a pensar (e sentir) o passado como se as dores ainda estivessem vivas dentro de nós. Isso porque, como expliquei, nossa mente já reconhece essa sensação como algo familiar e, como ela é atemporal, não distingue o passado do presente. Ela nos deixa lá, aprisionados naquela situação, mas sentindo o mesmo sofrimento que sentimos na ocasião. Por isso é real quando alguém diz: “ainda dói, como se fosse hoje”.
São muitos os motivos que nos levam a tomar decisões e nos frustrar depois, afinal não nascemos com um guia. Mas quando percebemos que só podemos “batalhar pela vida com as armas que temos”, então nos livramos da culpa por não ter lutado como gostaríamos. Sempre que erramos, o fazemos acreditando que estávamos acertando. Nossas ações são guiadas por ensinamentos e costumes que recebemos de geração em geração. Também podemos agir por medos, por insegurança ou carência, conforme as crenças e os bons ou maus exemplos que tivemos. Ainda somos impactados pelos traumas que vivenciamos. Sem falar que muitas pessoas tomam suas decisões baseadas em distorções da realidade ou enxergando somente o que os convém.
Com meus clientes incentivo a vivência dessas dores do passado (porque não é nada novo nem desconhecido para o inconsciente, pelo contrário, o inconsciente tem intimidade com isso). Esse passado precisa ser revisitado, mas de forma madura e visto com mais leveza, não mais com pesar. Portanto, se você tem se tornado uma pessoa frustrada, se olhe e visite suas frustrações. Empurrar o que não é tão bonito para debaixo do tapete e continuar se lamentando do que você poderia ter tido e não teve, ter feito e não fez, de nada vai te ajudar a seguir e ser feliz. Somente enfrentando, sem lamentação, mas com critério, com discernimento e maturidade, é possível vislumbrar sua história sob uma nova perspectiva, eu te garanto.
Além do mais, pare para pensar: Partindo do princípio que, quando passamos por uma situação ruim estamos mergulhados nela e somos atingidos em cheio pelas emoções, consequentemente, temos mais dificuldade de raciocinar “friamente”. Por isso muitas vezes quem está de fora consegue ver a cena com muito mais clareza. Esse é mais um motivo para você fazer esse exercício de reflexão, porque o efeito do tempo está a seu favor. Por mais que seja ruim pensar nas coisas que te aconteceram, agora você não carrega mais o “calor da emoção”. Use isso a seu favor. Visite cada capítulo da sua vida. Olhe-os como uma expectadora e busque neles os prós e os contras (porque se ainda te faz sofrer é um sinal de que você só tem visto os contras). Reveja as pessoas envolvidas, libere o perdão por não terem atingido suas expectativas. E então perdoe a si mesma. Olhando para dentro de si e para essa expressão triste que você carrega, dê um basta nesse sentimento, seja de mágoa ou de culpa, não esconda nada. Após fazer isso reflita se você precisa ainda se sentir tão culpada ou se apenas agiu pensando ser o certo naquele momento, ou dentro das condições que tinha.
Faça isso com um olhar mais amoroso por quem você era e por quem é hoje. Além de encontrar algo de bom nas suas experiências passadas, quem sabe você vai perceber que, exatamente por algo não ter acontecido como você esperava, foi o motivo para você viver outras experiências que talvez nem esteja valorizando como poderia. Pense nisso! E se estiver muito difícil reprocessar a sua história e enxergar a vida com gratidão, busque um tratamento emocional. Por trás dessa cara de tristeza existe um motivo que precisa ser tratado e uma felicidade que você merece experimentar.