A VILA DE JAGUARY NOS ANOS DE 1920. VISITEMOS!

O fundador benemérito da Vila Bueno (1894) e do Distrito de Paz de Jaguary (1896), chefe republicano, Cel. Amâncio Bueno faleceu em 1914. A Fazenda Florianópolis fora leiloada para saldar suas dívidas. Jaguary caminhava com a força de seu trabalho, presença de Subprefeito nomeado que reivindicava os cuidados à administração de Mogi Mirim. Nas horas de lazer, os jovens dedicavam-se, sadiamente, aos esportes: futebol. Assim o povo tecia sua paisagem cultural. Por exemplo, em 1924, na sede do clube organizavam-se bailes e apresentavam-se peças de teatro. Isto alimentava o desenvolver de vocações: dançarinos e atores. A juventude jogava, dançava e representava. A Vila alegrava-se e produzia músicos que se reuniam em grupos musicais.

Quando a mocidade recebe da sociedade lazer sadio e oportunidades brilha a criatividade e o desenvolvimento para o bem e para o progresso. A Paróquia de Santa Maria com seu pároco atendia espiritual e fisicamente o povo. E todos na simplicidade dos costumes e com muito trabalho diário, planejamento e economia, respeito à família, amor às Sagradas Escrituras, lançavam as bases da Jaguariúna de hoje. Para entender o progresso dos dias atuais, cumpre resgatar o passado, salvá-lo, conhecê-lo e, desta forma planejar o futuro. Voltemos à história e vejamos o que o jornal semanal “A Comarca” do município de Mogi-Mirim, ao qual pertencíamos, nos relata: “No próximo dia 6 do corrente realizar-se-á em Jaguary, na sede do E. C. União Jaguaryense, uma grandiosa partida dançante, para o qual recebemos convite do Sr. Horacio Poltronieri, membro da respectiva comissão. Agradecemos.

Saibamos como foi o acontecimento noticiado em 13/01/24: _ “Sarau dansante”. _Realizou-se domingo último, às 21 horas, na sede do S.C. União Jaguaryense, grandioso sarau dansante, que distinctos rapazes desta Villa offereceram às exmas famílias jaguaryenses. A reunião prolongou-se até às 3 horas do dia seguinte, reinando sempre muita alegria. Foi abrilhantada pela excelente orchestra “Grupinho”, regida pelo maestrino Hermínio Poltronieri.” Tal notícia é complementada pelo jornal subseqüente (17/01/24): – “Soirée dansante _ Consoante notícia dada pelo correspondente local, realizou-se no domingo p.p. dia 6 do corrente mez uma partida dansante, promovida por uma commissão e demais sócios. O salão, sede do E. C. U. J. achava-se ricamente ornamentado de serpentinas, vendo-se a um canto delle, um bem enfeitado coreto, abrilhantando-o a bem afinada orchestra…

À hora do costume foi servido aos presentes um lunch acompanhado de chá. E, debaixo da maior cordialidade prolongou-se o baile…Como lembrança foi aberto um álbum pedindo a assignatura de todos os convivas conforme consta:…..” Seguem-se 73 assinaturas. Estas listas nominais de presenças às festas ou aos féretros mostram-nos as famílias que compunham a nossa sociedade. Torna-se interessante analisá-las. Mais notícias ao adentrar o mês de maio: “_Futeból – Está definitivamente assentada a vinda nesta Villa, no dia 4 de maio p.f. do valoroso conjuncto do “Radio Futebol Clube”, de Campinas, cujo quadro é composto de elementos de real valor do Ponte Preta. Reina, portanto aqui e nas circumvizinhanças grande enthusiasmo pelos amantes do esporte bretão, dado o valor da refrega, a qual será em disputa de uma rica Estatueta de Bronze offerecida pelo exímio torcedor das duas entidades esportivas sr. Sylvio Bueno.

Portanto espera-se que os locaes saibam elevar bem alto as cores do “União”, como até aqui têm sabido proceder preparando-se bem para a importante lucta, para isso, está determinado treino obrigatório toda esta semana.” Mas, na verdade o que ocorreu e assustou o time local foi que a Associação Atlética Ponte Preta pediu licença à Associação Paulista de Esportes Amador para vir com o time completo e não parte dele com a sigla de Rádio F. Clube. Os jogadores locais quando souberam da vinda de toda a Ponte Preta pensaram numa derrota nunca experimentada. E o Correspondente registra no exemplar de “A Comarca” publicado em 11/05/1924:
“_ Mas… os que à Praça Berlim affluiram, viram em todas essas considerações, outro carácter, pois que, finalisou a peleja, com um honroso empate de 2×2. Tirado o “toss”, este foi favorável aos locaes, cabendo a sahida aos visitantes que avançam logo, sendo rechaçadas as suas investidas pela defesa local……o primeiro Half-time termina com a superioridade dos visitantes por 2×0. Depois do descanso regulamentar, começa o 2º half-time. Os locaes actuam impeccavelmente……..termina o grande embate com a contagem de 2×2. A´s 19 1/2 horas foi offerecido aos hospedes um lauto jantar no Hotel Lusitano, decorrendo na maior harmonia. A delegação campineira regressou para Campinas ás 20 horas, em automóveis, pela estrada de rodagem”. Assim a humildade, a diplomacia, a cortesia, a educação de berço caracterizaram as primeiras décadas do esporte bretão no Brasil. Respeitamos a ortografia da época. Nas primeiras décadas do século XX permanecem os termos da língua inglesa onde surgiu, oficialmente, o esporte no final do século XIX e foi introduzido no Jaguary em 1913.

Tomaz de Aquino Pires